Vereador Luiz Vieira*

Esta é uma pergunta que todos os anos a população vinhedense repete, sem respostas convincentes. Vivemos em um constante estado de “estresse hídrico”, e isso se deve a fatores climáticos, mas, também, de gestão.

Explico: a água é a base da vida. Ela está presente em praticamente tudo, desde os oceanos até as células do nosso corpo. Sem água, a vida definitivamente não existe. Ela é essencial para regular o clima, formar os oceanos, rios e lagos, e ser o componente vital de todos os seres vivos.

Trocando em miúdos e expandindo a análise para escala planetária, 97,5% da água existente é salgada; da água doce, 69% encontra-se nas geleiras e 30% são águas subterrâneas; ou seja, apenas 1% está na superfície, em rios, córregos e represas.

Nesse ponto, cabe uma diferenciação: um recurso hídrico é toda água que pode ser empregada em um determinado uso ou atividade. Todo recurso hídrico é água, mas nem toda água é um recurso hídrico. Em Vinhedo, tanto a água quanto os recursos hídricos precisam de uma gestão melhor e mais ambientalmente sustentável.

No Brasil, existem leis importantes para o cuidado com a água e a preservação do meio ambiente, como o Código Florestal Brasileiro (Lei federal nº 12.651/2012), que estabelece, dentre outras medidas, a criação de Áreas de Preservação Permanente (APPs), sendo sua principal função o resguardo dos recursos hídricos, com suas medidas exemplificadas na gravura a seguir.

Contudo, sabemos que a qualidade da água tem sido repetidamente comprometida em grandes centros urbanos, como é o caso da Região Metropolitana de Campinas, na qual se insere Vinhedo, algo que se soma a questões globais como as mudanças climáticas e as alterações nos regimes de chuvas, com estiagens mais severas. Por aqui, especialmente, os principais entraves para a água (e o meio ambiente, por conseguinte) podem ser resumidos em tópicos como o crescimento da mancha urbana em cima de nascentes, a destruição das matas ciliares e, historicamente, os baixos investimentos em expansão da rede, represamentos e contenção de perdas.

Os recursos hídricos vinhedenses se apresentam no importante Rio Capivari e em vários córregos e nascentes, distribuídos em duas bacias: a do próprio Rio Capivari e a do Rio Atibaia, sendo ambas localizadas na chamada Bacia PCJ – Piracicaba, Capivari, Jundiaí, conforme mapa a seguir. Em Vinhedo, é possível determinar o limite entre as duas bacias tomando como referência o traçado da tricentenária Estrada da Boiada. Além disso, nossos recursos hídricos também estão presentes em várias represas e reservatórios criados pelos seres humanos.

O rio Atibaia localiza-se a 10 km em linha reta, no município de Valinhos, ao norte de Vinhedo. Os principais córregos contribuintes da bacia do rio Atibaia são os córregos Pinheirinho e Cachoeira, e o ribeirão Bom Jardim. Os dois primeiros têm como afluentes os córregos Sterzeck, Juazeiro/Cruzeiro, e Paciência/Cristo. Já o rio Capivari corta o território do município na região próxima à Rodovia Anhanguera. Seus principais afluentes da bacia do Capivari são o córrego Água do Buracão, Marambaia, São Bento/Capela, Faz. Santa Cândida, e o ribeirão Tico Tico/Moinho.

Falando sobre o tratamento para que essa água, presente nos recursos hídricos mencionados acima, chegue à torneira da população, é necessário ressaltar: a água captada nos afluentes do rio Atibaia abastece a região central, por meio da ETA (Estação de Tratamento de Água) I; e a água captada no rio Capivari abastece a região da Capela, por meio da ETA II. Existe, também, a ETA III, na região do Condomínio São Joaquim, mas a mesma nunca entrou em operação definitivamente em razão de falhas de engenharia que impossibilitaram sua inauguração, e cujas obras para contornar esses problemas perduram há anos.

Sob a perspectiva pluviométrica, tem-se muito evidentemente que os meses com deficiência hídrica estão concentrados no inverno, no período mais sensível da estiagem, entre os meses de julho, agosto e setembro. Entre abril e junho, os índices também são baixos. Porém, na outra metade do ano, há um excedente hídrico que, algumas vezes, supera os 100mm.

Quando não chove por grandes períodos, falta água porque os represamentos não dão conta do atual número de habitantes. Por isso, em todo ano tem rodízio! Por outro lado, quando chove muito igualmente há desafios na captação e distribuição de água, pois perdemos esse recurso e ainda há danos ao sistema. Veja, por exemplo, essa manchete da CBN publicada em dezembro de 2022.

Feita essa introdução, podemos começar a nos aproximar da resposta à pergunta inicial. Sem água, há prejuízos para famílias, comércios, repartições públicas e indústrias; secamento de poços artesianos e lençóis freáticos; entraves para a saúde pública; e perda de prosperidade do município, com investimentos privados deixando de escolher Vinhedo por essa razão.

Então… Falta água em Vinhedo? Minha resposta é: NÃO! O que falta é uma boa gestão dos recursos hídricos do município e de sua infraestrutura de saneamento. Se água é essencial para a vida e Vinhedo tem problemas com recursos hídricos, então absolutamente tudo (orçamento público, planejamento e gestão) precisa girar em torno dessa problemática fundamental.

Por isso, sugiro 7 ações que precisam ser consideradas caso o município queira enfrentar frontalmente as crises hídricas:

  1. Em curtíssimo prazo, comunicação transparente sobre a crise hídrica e as ações planejadas para contorná-la;
  2. Recuperação de nascentes e áreas verdes responsáveis pela “produção de água” no território, com destaque especial à área da Fazenda Cachoeira, que garante a recarga hídrica dos lençóis freáticos que abastecem a região das Represas, que, por sua vez, abastecem aproximadamente 70% do município;
  3. Interrupção, por tempo indeterminado, do crescimento da mancha urbana da cidade em cima de áreas ambientais, contrariando frontalmente os interesses da especulação imobiliária;
  4. Revisão do Plano Diretor Participativo de Vinhedo que compreenda a gestão hídrica e as mudanças climáticas como o centro e o ponto de partida para as políticas e ações públicas nos próximos dez anos;
  5. Orçamento adequado que coloque a gestão hídrica no centro de todas as políticas públicas, viabilizando estudos e a construção de novas represas, redes de saneamento básico (incluindo coleta de esgoto, lembrando que 15% do esgoto de Vinhedo ainda não é coletado, indo para fossas sépticas);
  6. Adoção de alternativas tecnológicas para detectar e resolver as perdas na tubulação, que desperdiçam mais de 30% da água tratada com recursos públicos e lançada na rede de saneamento;
  7. Implementação de políticas adicionais como IPTU Ecológico (ou IPTU Verde), reuso de água em repartições públicas e conscientização da população e da iniciativa privada, para que aconteça uma sensível redução do consumo particular, tendo em vista que o consumo diário de água em Vinhedo está 90% acima da média do recomendado pela ONU.

Essa é a minha visão. Qual é a sua?

Vamos juntos defender uma Vinhedo com sustentabilidade hídrica!

*Luiz Vieira é vereador de Vinhedo pela REDE SUSTENTABILIDADE, Gestor de Políticas Públicas pela Universidade de São Paulo (USP), Mestre em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e Doutorando em Ambiente e Sociedade pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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