O tema aqui é a Fazenda Cachoeira. Mais precisamente, a transformação deste patrimônio ambiental, arquitetônico, cultural e histórico em um parque público, devolvendo ao povo de Vinhedo aquilo que é seu e que deve ser usufruído e cuidado com respeito e reverência.
Buscando informações do site criado em meio a uma grande mobilização em 2014, feita pela própria população, a Fazenda Cachoeira é uma área de conservação ambiental de Vinhedo situada na região das Represas I, II e III. Tem uma importância fundamental para nossa cidade e todo o Brasil.
Tombada pelo patrimônio histórico do Estado de São Paulo em 2007, foi próspera na era do café; colaborou com o desenvolvimento da região que deu origem ao vilarejo de Rocinha, que depois se emancipou como Vinhedo. A fazenda foi utilizada como espaço de lazer, de convivência e para a prática de esportes. Sua importância é tão grande para a história e a cultura do Brasil, que existem até mesmo quadros de renomados pintores do Século XIX, retratando o cotidiano da Fazenda, e que se encontram expostos, em área de destaque, no Museu do Ipiranga, na capital paulista.
Abordando os aspectos naturais dessa vasta área, de 1 milhão e 700 mil metros quadrados, ela é uma região abundante em nascentes e córregos que colaboram com o abastecimento hídrico da cidade. Além disso, a Fazenda faz parte da Serra dos Cocais, um bioma único no Estado de São Paulo, com transição entre Mata Atlântica e Cerrado, sediando fauna e flora ameaçadas de extinção.
Por isso, a reivindicação sempre foi para que a Prefeitura de Vinhedo comprasse a área e a transformasse em um grande Parque Ecológico, com livre acesso à população. Ao invés de mais um loteamento, ao invés de mais um condomínio fechado, que ela fosse utilizada para a cultura e o turismo, para a preservação da água e dos recursos naturais.
Atualmente, toda a área da Fazenda Cachoeira está sob propriedade de uma empresa que se chamava Gálatas S/A, e que ficou bastante conhecida quando a porteira foi fechada, mas que agora mudou o nome para Companhia Fazenda Cachoeira. Na prática, não mudou nada. Houve até mesmo o despejo absurdo e inaceitável da Dona Lúcia Aparecido, após gerações morando em uma residência simples ao lado do casarão histórico.
Na Câmara Municipal de Vinhedo, foram realizados vários debates, audiências públicas, falas em tribuna, tanto a favor, quanto contra a Fazenda. Mas é inegável que os argumentos a favor da preservação do patrimônio e de sua recuperação para abertura ao público são vencedores. Não há quem, provido exclusivamente de interesse público, seja contra essa ação.
Nessas discussões, estavam presentes, além dos nossos saudosos vereadores Rodrigo e Valdir, também alguns vereadores que ainda hoje estão na Política de nossa cidade. Menciono aqui o vereador Paulinho Palmeira, hoje presidente desta Casa, e o então vereador Dr. Dario Pacheco, atualmente Prefeito de Vinhedo.
E o então vereador Dr. Dario Pacheco, hoje Prefeito, até mesmo chegou a publicar uma nota afirmando que seria a favor da compra da Fazenda para transformá-la em um parque público. E, naquela mesma ocasião, disse que, “com a crise hídrica que vivemos, valeria a pena qualquer sacrifício”. Felizmente, essa publicação ficou registrada.
Em uma de suas últimas falas no púlpito do Legislativo municipal, Rodrigo Paixão disse que o prefeito, Dr. Dario, havia cometido “estelionato eleitoral”, que é um conceito da Ciência Política usado para descrever os casos de candidatos eleitos com uma plataforma ideológica e que, após a eleição, adotam um programa oposto àquilo que havia sido prometido. Na prática, é quando um político induz o eleitor a erro dizendo que vai defender uma coisa e, quando ganha, faz o contrário.
A respeito da desapropriação e criação de um parque na Fazenda Cachoeira, algo que estava no Plano de Governo rasgado do Dr. Dario, também já se passaram 3 anos e a situação continua a mesma, sem nenhum esforço realizado pela atual gestão para a proteção de toda a Macrozona de Proteção Ambiental Leste e, por tabela, para a região da Fazenda Cachoeira.
Também sabemos que esta foi uma promessa descumprida pelo governo anterior a este, documentada em vídeo e, mesmo assim, nada foi feito. Para piorar, desde aquela época ainda nos encontramos em processo de revisão do Plano Diretor. Quando fui Secretário de Meio Ambiente e Urbanismo, esse foi um trabalho que eu realizei e que está registrado em todos os documentos oficiais. Desde o primeiro momento eu lutei para que a revisão fosse feita por uma empresa ou consultoria externa especializada, como forma de impedir que alguns interesses alheios ao interesse público prevalecessem, mas a intenção inicial do governo foi de fazer essa revisão internamente, sabe-se lá por qual motivo.
Tiveram que encontrar uma solução suja, rasteira e mentirosa para me tirar da Secretaria com fake news e com ataques absurdos para que o plano continuasse, e agora, aparentemente perceberam que eu estava certo e que a melhor opção seria, de fato, contratar um ente externo e habituado com a elaboração e a revisão de planos diretores. O processo está tramitando.
E uma coisa que precisa ser levada em consideração é a seguinte: sabemos que a especulação imobiliária fica atrás do Executivo dia e noite, noite e dia. E não existe nenhum interesse público no interesse da especulação imobiliária. O que o especulador quer é dinheiro no bolso, sem compromisso com a água, com a natureza, ou com o bem-estar de quem mora em Vinhedo.
Por isso, seria de se esperar que um governo eleito democraticamente pelo povo de Vinhedo dissesse “NÃO” a esse grupo e olhasse para aquilo que é importante para quem o elegeu. Vemos cada vez mais o avanço da cidade em cima de nascentes, áreas verdes, com falta d’água, poluição, e tantos outros problemas. E a Fazenda Cachoeira está no centro dessa discussão.
Durante a apresentação do bloco de carnaval Bloquete, em 2024, mais uma vez esse assunto foi mencionado e houve uma grande mobilização de membros do próprio bloco e, também, do Refloresta Vinhedo, além de cidadãs e cidadãos que estiverem presentes para a coleta de assinaturas em um novo abaixo-assinado pedindo a desapropriação da área da Fazenda Cachoeira para a instalação de um parque ecológico, um parque público, que sirva à comunidade e restaure aquele ecossistema.
Em apenas uma tarde de coleta de assinaturas, conseguiram mais de 440 apoiadores, algo surpreendente e que mostra a força e a disposição do nosso povo em lutar por aquilo que já deveria ter sido reconhecido há muito tempo nesta cidade. Ao final, o número passou de 5.000 assinaturas, com coleta em vários pontos estratégicos da cidade, como espaços públicos e até mesmo na Festa da Uva.
Sendo assim, eu peço que a Prefeitura de Vinhedo desaproprie a área atual da Fazenda Cachoeira e a transforme em um Parque Público com status de APA, que é a Área de Proteção Ambiental, garantindo a conservação de um patrimônio natural, cultural e arquitetônico da região e barrando as pressões que têm por objetivo a transformação desse espaço em um loteamento.
Direcionando este texto aos meus colegas vereadores, nós temos em nossas mãos a oportunidade de contribuir diretamente com essa discussão e com essa reivindicação. Chegou a hora de darmos um presente a esta cidade, algo que vem sendo pedido há mais de 10 anos e que precisa ser entendido finalmente como um bem público, um patrimônio do nosso povo.
O fechamento da porteira foi traumático para nossa cidade. Eu me lembro, enquanto criança, de fazer aquele caminho toda semana, passando por dentro da Fazenda e acessando a Represa II. Na inocência de uma criança, mesmo sem conhecer a história ou a importância daquele local, eu sentia um pertencimento. Ficava maravilhado diante da grandeza e do ambiente tão preservado, mesmo estando próximo da cidade. As crianças de hoje e de amanhã também precisam ter garantido o direito de aproveitar esse local.
A Fazenda Cachoeira não pode ser de uma pessoa, ou de uma empresa. Assim como a Estação Ferroviária, as Represas, o Parque Ecológico da Capela, o Bosque, o Aquários, a Praça Aurora Sudário, a Praça Sant’Ana, e tantos outros lugares, ela tem que ser do povo, de todas e todos nós. Não pode estar à mercê de interesses privados que mudam da noite para o dia, mas precisa ser administrada pelo Poder Público municipal, com controle social, transparência e participação popular.
Os bairros de nossa cidade estão vivendo todos os dias uma falta d’água crônica. Quando chega água na torneira, ela está barrenta, suja, imprópria para o uso. E muitas vezes o discurso político fica limitado apenas à questão da infraestrutura. Ou seja: falta d’água se resolve com concreto, ferro… a chamada “engenharia cinza”. Mas a falta d’água também se resolve com o reflorestamento. Com a regeneração das matas, das nascentes, com o alívio da pressão humana sobre os nossos ecossistemas naturais.
Agora, diante das mudanças climáticas, o movimento mais do que nunca tem que ser para cuidar, e não para destruir, sobretudo porque estamos a um passo de perder tudo aquilo.
Por isso, a Fazenda Cachoeira tem que ser entendida como vital para o equilíbrio do nosso meio ambiente e como um bem histórico e cultural de importância não somente para Vinhedo, mas para o Brasil. Em São Paulo e em todo o país há poucos exemplos tão significativos de fazendas desse período e com tanta história, com tanta riqueza de detalhes. Mas, dia a dia, tudo isso está se perdendo.
A depender das próximas decisões, poderá se perder para sempre. Por isso a urgência. Por isso a brilhante mobilização popular em torno desse tema. Por isso esta fala reforçando tudo aquilo que já foi dito por Rodrigo Paixão, Valdir Barreto e tantos outros.
QUE ABRAM A PORTEIRA DA FAZENDA CACHOEIRA!
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